A França

Quando eu estava no Brasil, sempre pensei nos franceses como um povo uniforme, todos os clichês que eu conhecia falavam dos franceses em geral e dos parisienses em particular.

Ao chegar aqui, percebi que cada região tem suas particularidades e suas  “idées reçues” (esteriótipo que normalmente se revela falso) sobre as outras regiões.

Por exemplo, no Sudoeste, existem os pratos da região, ligados a fatores históricos e culturais, como por exemplo a quantidade de “canard” (pato) que comemos aqui, o sotaque típico e inclusive o comportamento da população, sem falar na tentativa de manter viva a língua que se falava aqui no passado, o Occitano.

Tudo isso tem a ver com fatos históricos muito antigos que eu nem imaginava antes de vir para cá, como por exemplo a perseguição que sofreram os cátaros, numa época em que francês era quem vinha da Ile de France (Paris).

E os moradores daqui vão dizer que os bretões não têm coração, que os parisienses são estressados, que habitantes de Marseille têm um sotaque horrível e que no Norte (qualquer lugar acima de Lyon) faz muito frio. =P

Ensino médio na França

Aqui na França o Ensino médio – em francês “Lycée” – é composto de 3 anos como no Brasil. Mas as semelhanças acabam aí. Os alunos costumam ter aula das 8h até às 17h todos os dias da semana, com algumas poucas janelas e a quarta à tarde livre.

As matérias têm nomes diferentes mas num geral são conteúdos parecidos com os do Brasil, estudam matemática, história, geografia, biologia etc. E os alunos podem estudar inglês, alemão ou espanhol como língua estrangeira (costumam escolher duas entre elas) e alguns liceus dão a opção de uma terceira língua, que pode ser chinês, português, italiano, russo, japonês…

No final do primeiro ano, que aqui se chama “Seconde”, o aluno deve fazer uma escolha entre as três opções mais comuns de formação: Scientifique (S), Economique (ES) ou Littéraire (L). Existem ainda outras, mas essas três são oferecidas em quase todos os liceus.

Os alunos que escolhem Scientifique (Científico) vão ter uma formação mais voltada para as matérias de exatas como matemática, física e biologia. Já os que escolhem Economique (Economia) se focam mais em história, geografia e também têm matérias que tratam de economia e gestão. Por fim, os das turmas de Littéraire (Literatura) são voltados para a literatura, aprendizado de línguas estrangeiras e também história e geografia.

E dentro de cada uma dessas opções os alunos ainda escolhem a sua especialização, que pode ser audiovisual, ciências da engenharia etc.

Quando entendi isso, achei o máximo, pensei: “se eu estudasse aqui poderia ter escolhido ES ou L”, mas algum tempo depois percebi que não é bem assim, um diploma S – científico – te permite ir à qualquer lugar, logo são os alunos mais “fortes”/”inteligentes” que seguem nessa área, e nas turma de L estão os alunos com um nível mais baixo. Fora que muitas vezes a escolha é feita pelos pais e não pelos alunos….

 

Inverno

A coisa que mais me incomoda aqui é o inverno, e por inverno eu não quero dizer o frio, mas sim a estação, porque nesta época do ano os dias são mais curtos e têm muito menos sol.

Há alguns meses atrás eu estava dando aula e o sol estava entrando pela janela e batendo no rosto de duas de minhas alunas, então eu perguntei pra elas se queriam que eu fechasse a cortina, e elas me responderam “não, madame, nós gostamos do sol”. Na hora eu não entendi, mas hoje, num dos muitos dias cinzentos do inverno, a frase faz todo o sentido.

Agora sempre que eu posso e vejo um solzinho, quero aproveitá-lo ao máximo, ele funciona mesmo como um carregador de baterias. =)

Imaginem que no mês de dezembro aqui começa a anoitecer às 17h e só amanhece umas 8h30. No Natal estive em Amsterdã e lá amanhecia às 9h e às 16h30 já era noite, dava 20h30 e tudo que eu queria era dormir.

Tirei essa foto abaixo em Amsterdã, porque ficamos impressionadas, era 16h42 e já era noite…

Alguns dias da semana eu saio pro trabalho às 7h e só amanhece umas 8h20 quando já estou quase chegando na outra cidade onde trabalho. Pra mim, olhar pro relógio e ver que são 8 horas e não tem sol é muito estranho. Sinceramente, não sei como os europeus aguentam….

Um caderno de viagem

Já faz três meses que estou em Toulouse, trabalhando como professora assistente de português no ensino médio, e me sugeriram criar um blog pra contar as minhas experiências e também registrar as palavras e expressões que estou aprendendo – achei a ideia ótima e aqui estou eu.

Nesses mais de 100 dias que estou aqui, já passei por bastante coisa e parte do meu estranhamento inicial já passou, mas o velho continente ainda continua a me surpreender quase todos os dias. =)

Quando vim para cá tinha em mente observar o cotidiano escolar francês para pode comparar com o brasileiro e o blog vai me ajudar a registrar essas impressões.

Et c’est parti!